As mulheres que percorrem diariamente a pé mais de 8 km em busca de água para consumo
07 agosto 2024
Uma história sobre um dos recursos mais escassos na Guiné-Bissau.
Em muitas comunidades rurais da Guiné-Bissau, o acesso à água potável ainda é um grande desafio. Essa situação afeta principalmente as mulheres, que são as responsáveis pelo cuidado familiar, desempenhando um papel fundamental no uso e gestão dos recursos naturais e Hídricos, as mulheres não só estão sub-representadas nos processos de tomada de decisão, mas também tendem a sofrer mais com a má gestão desses recursos e os conflitos resultantes.
Nesse contexto se encontram diversas comunidades dos sectores de Boé e Pitche, leste da Guiné-Bissau e Quebo, ao sudoeste do país. Esses sectores estão inseridos na Bacia do Rio Corubal, um dos principais rios de água doce na Guiné-Bissau, mas ainda assim, o acesso aos recursos hídricos não é sempre fácil.
Nessas comunidades, os furos de água existentes não atendem a demanda, não estão adequados, ou não funcionam, fazendo com que as mulheres, na sua maioria jovens, percorrem todos os dias mais de 8 km em busca de água para o consumo humano e de animais. Além da dificuldade de acesso à água, as populações dessas comunidades também carecem de outras infraestruturas e cuidados: Saúde, Educação, infra-estruturas rodoviárias, cobertura da rede telefónica, electricidade, meios de transporte, entre outros.
Abibato Balde, da tabanca de Bilonco-Boé, setor de Boé, relata: “não conseguimos dormir, às vezes acordamos às 4h da manhã à procura da água. A água que temos não é adequada para o consumo, está cheia de insetos. Um agente de saúde é que nos têm apoiado na desinfecção de poços de vez em quando. Este é o único poço que temos, o outro já não funciona. [...] Há muita doença, o hospital de Boe não tem medicamentos, é só sofrimento. Percorremos longas distâncias à procura da água; as nossas hortas estão secas [...] Não temos água nem para beber, como é que vamos conseguir água para regar as hortas?”.
As dificuldades não ficam por aqui, há quem ainda vai buscar a água junto à fronteira entre a Guiné-Bissau e a Guiné-Conacri. Júnior Mário Quinta, 14 anos, é quem faz este percurso diário de bicicleta para ajudar a família:
“Devido à escassez de água na minha aldeia sou obrigado a deslocar para uma outra tabanca à procura da água para consumo e para animais, caso contrário morrem”.
Mariama Djau, da tabanca de Patake, sector de Boé, também relata: “Vejam a água que nós bebemos, estamos sempre com dores da barriga, acabei de chegar do hospital de Boé. Não temos água apropriada, a água está suja".
Aissatu Djallo, moradora de Saltinho, em Quebo, uma tabanca mais próxima do rio, conta que possuem acesso à água e uma bomba, mas precisam de uma estrutura de vedação para a horta, pois sem ela as vacas entram e estragam toda a horta.
“Queremos trabalhar com horticultura pois somos muitos camponeses e camponesas aqui neste local. Queremos trabalhar para o nosso futuro. No caso que vamos conseguir com esta associação, conseguiremos também um trabalho para os nossos filhos”.
Os trabalhos nas regiões de Gabú e Tombali enquadram-se no âmbito da implementação conjunta do Projeto “Gestão Pacífica dos Recursos Naturais na Bacia do Rio Koliba-Corubal" realizado pelo UN HABITAT, UNCDF, FAO e outros parceiros com financiamento do Fundo das Nações Unidas para a Consolidação da Paz (PBF).
Este projeto visa promover a coexistência pacífica e a gestão sustentável dos recursos hídricos entre as comunidades que vivem na Bacia Hidrográfica do Rio Koliba-Corubal através de um processo de planeamento inclusivo e participativo que envolva especificamente as mulheres. Finalmente, a abordagem proposta baseia-se no entendimento de que, se os instrumentos e processos relativos à gestão dos recursos hídricos locais forem sensíveis ao gênero e se for criado um ambiente propício que garanta a participação adequada das mulheres na gestão dos recursos, os conflitos associados à gestão dos recursos na Bacia de Koliba-Corubal, especialmente seu impacto sobre as mulheres, poderão ser evitados.