Como um antigo sistema de produção de arroz está a salvar o ano seguinte nos campos-piloto conjuntos da FAO e do PAM em Guiné -Bissau
A vida das comunidades mudou com a maior produção de arroz para as suas famílias.
Djaja Baldé fala com dificuldade, é gaga, mas isso não lhe tira o brilho enquanto nos leva pelos campos que cultiva com a sua família de 17 pessoas:
“Olhem à vossa volta, vejam por vós próprios. Nunca, em todos os meus anos, tive tanto arroz”.
Estamos na região de Gabú, no leste da Guiné-Bissau, mais concretamente na tabanka de Sintchä Benfica. Nesta zona de maioria Fula e muçulmana vivem algumas das populações que enfrentam mais dificuldades no complexo mosaico social Bissau-Guineense. Foi uma das regiões escolhidas para pilotar a técnica da Intensificação Sustentável do Arroz (ISA), que já tinha levado a um aumento de quatro vezes na produtividade do arroz na sua fase experimental. Espera-se que o projecto-piloto forneça provas valiosas ao governo para apoiar a transição, a médio e longo prazo, para uma maior produtividade agrícola e uma melhor soberania alimentar.
No total, ao longo de 2022, 150 agricultores participaram neste projecto, co-financiado com 250.000 dólares pelo Fundo Conjunto para os Objectivos de Desenvolvimento Sustentável e a FAO e implementado pela FAO com o PAM. Na sua aldeia, como chefe de família, Djaja fez parte de um grupo de 7 homens e 3 mulheres que receberam formação nas técnicas do Sistema de Intensificação do Arroz, envolvendo práticas diferentes dos modelos de produção ancestrais. Não se trata de práticas novas, nem de conhecimentos recentes. Acontece que, no final dos anos 90, quando esta sub-região africana recebeu apoio internacional para a instalação de campos-piloto, a Guiné-Bissau estava a sair da sua devastadora guerra civil - o país ficou à margem dos avanços verificados além-fronteiras.
Djaja não desarma e está visivelmente comovida:
“Este ano, a minha família vai comer bem, sem preocupações. Nunca mais voltarei atrás - utilizarei esta nova técnica até ao fim dos meus dias, até morrer!”
Até agora, duas comunidades na região de Bafatá, com melhores recursos hídricos e solos mais férteis, tiveram resultados excepcionais: 6 e 7 toneladas, respectivamente. A região sul de Quinará, considerada especialmente promissora para os arrozais de mangal, apresentou os resultados mais baixos: uma média de 2,1 toneladas por hectare. Já as comunidades da região de Gabú obtiveram uma média de 2,7. Isto fica muito aquém das 4 toneladas esperadas a nível nacional. Em termos gerais, os resultados representam, no entanto, a duplicação do volume das colheitas habituais. Em regiões onde a insegurança alimentar aguda mantém mais de 108.000 pessoas na necessidade de apoio alimentar imediato, compreende-se facilmente o alívio e a alegria que este facto causa.
Sobretudo numa altura em que se registam níveis históricos de inflação e aumento de preços, que têm vindo a agravar ainda mais as condições de vida de quem já enfrentava mais dificuldades e a colocar em risco a segurança de novos grupos sociais. Acresce que, numa região que se debate também com dificuldades na distribuição dos recursos hídricos, a redução de até cerca de 50% das necessidades de rega para o novo sistema de produção, face às técnicas ancestrais de produção de arroz, não deixa de ser um factor importante.