No mês em que a ajuda do PUSA [1] chegou, Sábado Hortis já mal conseguia pôr comida na mesa. Viúva desde 2017, com 59 anos, é agora chefe de família num agregado de 14 pessoas com idades compreendidas entre os 11 anos do seu filho mais novo e os quase 80 anos da irmã mais velha do falecido marido.
Normalmente, os membros desta família já fazem apenas uma refeição por dia, mas, em Outubro, depois das monções, mesmo essa refeição estava em perigo – em 2022, o rio mais próximo transbordou; a água salgada entrou nas bolanhas e fez apodrecer os cultivos. “Naquela altura, já não tínhamos sequer arroz. Pensei: Deus, obrigada! Este dinheiro vai-nos dar de comer. Foi um grande alívio.”
As contas são simples. A transferência directa incondicional do PUSA foi de 85 mil francos CFA. Hoje, na Guiné-Bissau, um saco de 50 quilos de arroz custa 20 mil CFA e dura a esta família cerca de 20 dias. Sábado comprou dois sacos. O remanescente foi para assegurar as propinas dos filhos ainda a estudar: 10 mil CFA mensais para o rapaz no último ano do Liceu em Bissau, 2 mil CFA para o que frequenta a escola perto de casa.
Sábado vive em Antotinha, na região de Cacheu, a duas horas a pé do único terreno que a família tem para horta. Lá, cultivam tomate, cebola, pimento e djagatu. Uma parte da colheita alimenta a casa, a outra vendem. Às quartas-feiras, uma das netas vai ao mercado mais próximo, em Ingoré. Descontados os transportes, um bom dia pode render entre mil e 2 mil CFA, um mau dia trará cerca de 500. “Mas mesmo só 500 já ajuda”, diz-nos Sábado de olhar cansado.
O seu sonho? Que os 6 filhos e 6 netos arranjem “trabalhos de caneta” – “trabalho de gabinete”: “É uma vida melhor.”
Até agora, nenhum conseguiu.
[1] O PUSA – Projeto de Urgência de Segurança Alimentar é financiado pelo Banco Mundial e a linha de transferência incondicional direta, de apoio aos agricultores mais vulneráveis, é implementada pela FAO