África requer expansão inclusiva para conter níveis de pobreza, diz comissão
Guiné-Bissau e Moçambique na lista dos 10 países mais carenciados da região; ministros africanos das Finanças apontam queda de receitas e estresse de dívida.
A capital etíope, Adis Abeba, acolheu a 55ª Conferência dos Ministros Africanos das Finanças, Planeamento e Desenvolvimento Econômico. A atenção aos efeitos da pandemia foi destacada pela Comissão Econômica da ONU para África, ECA.
O impacto da Covid-19 e a guerra na Ucrânia, exacerbados pela intensidade dos desastres naturais, levaram mais africanos à pobreza extrema e resultaram em maiores desigualdades e vulnerabilidades no continente.
Desigualdade
Na avaliação da vice-secretária executiva e economista-chefe da ECA, níveis significativos de pobreza e desigualdade em África eram vistos mesmo antes das recentes crises. Mas agora a pobreza piorou e a desigualdade aumentou.
De acordo com Hanan Morsi, o continente tem 546 milhões de pessoas vivendo na pobreza. O total representa um aumento de 74% desde 1990. Ela explicou que os choques globais “têm efeitos cascata sobre os pobres na África através da inflação, que em 2022, foi de 12,35. A média mundial é de 6,7%”.
A ECA estima que as famílias na África gastam até 40% de sua renda em alimentos, e o impacto da crise global atingiu severamente as famílias mais pobres. Em 2022, 310 milhões de africanos experimentaram alguma forma de insegurança alimentar e 6 milhões enfrentaram fome extrema.
Pesquisas recentes mostram que entre 60 e 82% da população de países como Guiné-Bissau, Moçambique, República Democrática do Congo e República Centro-Africana são pobres.
Continente mais rico do mundo em recursos naturais
A lista das 10 economias africanos com maiores níveis de pobreza inclui Burundi, Somália, Madagáscar, Sudão do Sul, Maláui e Zâmbia.
O comissário para o Comércio e Indústria da Comissão da União Africana, Albert Muchanga, considera que embora África seja o continente mais rico do mundo em recursos naturais, seus habitantes são os mais pobres.
O representante ressaltou que a saída dos baixos níveis de rendimento e riqueza torna-se agora mais difícil devido às alterações climáticas. Exemplos recentes dessa situação são inundações em Madagáscar, Maláui e Moçambique.
Muchanga acrescentou que a iminente crise da dívida pode minar todas as conquistas de crescimento dos últimos 23 anos.
Especialistas e participantes observaram que os países africanos continuam a enfrentar receitas em declínio, aumento do estresse da dívida e espaço fiscal cada vez mais limitado.
Importações, clima e dívida
Em 2022, o rácio da dívida pública em relação ao Produto Interno Bruto, PIB, na região africana era de 64,5%, significativamente superior ao valor pré-pandémico de 57,1% em 2019.
A dependência das importações torna o continente vulnerável a choques nos preços dos bens.
Em 2021, 39 países africanos eram importadores líquidos de alimentos. O continente exportou apenas US$ 5,7 bilhões em produtos petrolíferos refinados, importando mais de US$ 44 bilhões.