Preparação para uma eventual epidemia de Ébola na Guiné-Bissau: Uma história de uma ameaça, tratada com experiência e cuidado.
Ameaça de Ébola na Guiné-Bissau
Ameaças de potenciais surtos de Ébola na Guiné-Bissau não são uma novidade. O país tem um longo histórico de tais ameaças devido à sua localização geográfica, inserido numa região predisposta a surtos de Ébola.
No dia 14 de fevereiro de 2021, um surto de Ébola foi detectado na vizinha Guiné-Conacri. Este surto, foi rapidamente declarado como uma epidemia pelo Dr. Rémy Lamah, Ministro de Saúde Pública na Guiné-Conacri. Este anúncio, provocou preocupação nos países vizinhos, incluindo a Guiné-Bissau, que partilha uma fronteira de 421 quilómetros com o referido país. De salientar ainda, que as fronteiras entre os dois países são muito permeáveis com muitos pontos de entradas ilegais, , sendo assim um desafio controlar os movimentos migratórios entre os dois países. Além disso, existe um contacto frequente entre pescadores da Guiné-Bissau e pescadores de outros países, como Nigéria, Guiné-Conacri, Togo, Senegal, que se movimentam entre os países da região, sem nenhum tipo de controlo sanitário. Perante este risco tão elevado de importação da referida doença, a Guiné-Bissau mobilizou-se rapidamente para se preparar para um eventual surto de Ébola, e proteger assim a sua população de mais uma emergência de saúde pública.
Como é que a Guiné-Bissau se preparou para um eventual surto/epidemia de Ébola? E como a OMS apoiou o país?
Activou os pilares centrais do COES – Para responder a esta ameaça de saúde pública, a Representação da OMS na Guiné-Bissau apoiou o ministério da Saúde na rápida reactivação dos seus cinco pilares centrais: comunicação de risco e engajamento comunitário, prevenção e controlo de infecções, gestão de casos, laboratório e vigilância.
Realizou-se um exercício de simulação A Representação da OMS no país apoiou o Ministério de Saúde Pública, na organização de um Exercício Nacional de Simulação do Ébola, para a Equipa Nacional de Resposta Rápida e para outros profissionais de saúde. Este exercício de simulação foi posteriormente replicado em seis regiões sanitárias do país, tais como: Bafatá, Biombo, Bolama, Gabú, Quinara e Tombali. Nas palavras de Venâncio Cabral, membro da Equipa de Resposta Rápida regional “esta simulação foi muito importante, pois permitiu a equipa identificar lacunas em gestão e resposta a um eventual caso suspeito ou confirmado de Ébola na região sanitária de Bolama”.
Reforço das capacidades –A Representação da OMS na Guiné-Bissau também reforçou as capacidades dos diferentes pilares; por exemplo o escritório da OMS no país doou testes GenXpert ao Laboratório Nacional de Saúde Pública que possibilitou a realização de testes de casos suspeitos de Ébola. Com este donativo, a Guiné-Bissau já tem capacidade de diagnosticar localmente potenciais casos de Ébola. A Representação da OMS, juntamente com o Instituto Nacional de Saúde Pública, também treinou mais de 45 técnicos de laboratório no uso de máquinas de teste GenXpert.
Sensibilização e comunicação – Reconhecendo a importância da comunicação e do envolvimento das comunidades, a Representação da OMS no país enviou uma equipa de profissionais para seis regiões (Bissau, Bafatá, Bijagós, Gabú, Quinará e Tombali). O objetivo desta equipa era sensibilizar e informar as comunidades, líderes religiosos, associações de mulheres e jovens sobre o vírus Ébola. Sendo assim, 41 comunidades foram sensibilizaras sobre as medidas de prevenção e controle do Ébola.;/ Mais de 2.400 pósteres foram distribuídos pelos centros de saúde e pontos de entrada. Foram igualmente realizadas entrevistas com as autoridades presentes nos pontos de entradas, para avaliar o seu conhecimento sobre o vírus Ébola.
Os nossos técnicos foram mobilizados para áreas remotas do país- A Equipa de Emergência da OMS deslocou-se em missão ao Arquipélago dos Bijagós, constituído por 88 ilhas e ilheus , para avaliar o nível de preparação de resosta à uma eventual epidemia de Ébola. Muitos pescadores da Guiné-Conacri, Libéria e Serra Leoa viajam frequentemente para essas ilhas para fazer negócios, a maioria dos quais viaja de um país para outro sem passar por nenhum controle de saúde ou verificação nos pontos de entrada designados. Após a chegada às ilhas, a equipa da OMS, junto com as autoridades regionais, capacitou com sucesso os centros de saúde e as comunidades, para estarem melhor preparados para lidar com doenças com potencial epidémico tais como Ébola, COVID-19 e outras. Nas palavras da Dra. Ivansca Janira Carlos de Medina, administradora regional de saúde de Bijagós “Queria dar os parabéns a OMS, que reforçou as capacidades dos 11 centros de saúde numa única visita”.
A Representação da OMS no País respondeu eficazmente não obstante o elevado grau de vulnerabilidade, risco e fragilidade que caracterizam o sistema de saúde pública da Guiné-Bissau. Uma importante lição aprendida é que o fortalecimento da capacidade de resposta à uma potencial epidemia, requer um esforço conjunto.
A Organização Mundial da saúde na Guiné-Bissau continua a apoiar o Governo, investindo na preparação para futuras potenciais epidemias. Foi nesta ótica que apoiou a reabilitação da Unidade de Doenças Infecciosas do Hospital Militar de Bissau, tornando-a assim, num novo centro de tratamento de doenças infecciosas, incluindo o Ébola.