A história da Usta Pina Mango- uma jovem médica na linha da frente no combate à pandemia
Uma jovem médica recém-formada que teve que adaptar-se ao “novo normal” logo nos primeiros meses da sua carreira profissional.
Em Março de 2020, os primeiros casos de COVID-19, foram detetados na Guiné-Bissau, colocando ainda mais pressão sobre o sistema de saúde já por si frágil.
A jovem Usta Pina Mango, recentemente licenciada em Medicina pela Universidade Raúl Diaz Arguelles de Bissau, foi colocada a trabalhar no Hospital de Cumura, um dos três hospitais identificados no país para receber pacientes de COVID-19.
Usta confessa que “Ao princípio não foi fácil lidar com a COVID-19, tínhamos poucas informações sobre esta doença e víamos diariamente as notícias da Europa, onde estava a morrer muita gente”. Os seus pais estavam também muito preocupados com o vírus, Usta ainda se lembra das palavras da sua mãe “Usta tu ainda és jovem e tens muitas feitos para realizar, não deixes que este vírus te arruíne o futuro”.
Apesar das preocupações da sua família, a Usta seguiu o juramento de Hipócrates e com um sorriso no rosto declara que “salvar vidas é a minha missão, por isso tinha que estar na frente do combate, apoiando aqueles que tinham mais necessidade”. A jovem médica confessa que ao princípio da pandemia tinha muito medo do vírus. Com as formações que recebeu por parte da Organização Mundial da Saúde (OMS), Usta começou a perder o medo e aprendeu a lidar com pacientes com infeções respiratórias agudas. Aprendeu também em como usar adequadamente o equipamento de proteção individual (EPI).
Usta menciona ainda o papel crucial que a juventude está a ter na luta contra a COVID-19 “durante o tempo que trabalhei no Centro de Tratamento para a COVID-19 do Hospital Cumura, todos os que trabalhamos lá eram jovens, com a exceção do nosso Diretor Clínico, que tinha muitos anos de experiência”. Esclarece ainda que no Hospital Nacional Simão Mendes Hospital, o maior hospital do país, é também a juventude que está a assumir a liderança na luta contra a pandemia.
Apesar do papel crucial que os jovens estão a ter na actual pandemia, o seu futuro não parece risonho. Usta menciona que antes da COVID-19 “já era difícil para os jovens encontrarem trabalho”. Os números concordam com a opinião da jovem médica, segundo os dados estatísticos relatados pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), 30% dos jovens na Guiné-Bissau estão atualmente desempregados. As previsões futuras sugerem que a actual pandemia, juntamente com as medidas de confinamento, irão fragilizar ainda mais a economia. Isso terá como consequência um aumento do desemprego. Muitos jovens pensam que a migração é a única alternativa e para eles a Europa representa um novo El Dorado.
Apesar das previsões negativas, a Usta está optimista em relação ao futuro do país após a pandemia “A COVID-19 trouxe muito sofrimento, perdemos muitos colegas, amigos e familiares, mas a pandemia também trouxe oportunidades”. Menciona que a COVID-19 “fez-me crescer muito profissionalmente, aprendi a lidar com situações que nunca tinha visto na Faculdade. Com o apoio da OMS, aprendi também a trabalhar com ventiladores. A pandemia foi como uma escola para mim”.
Refere ainda que devido a pandemia, os hospitais e centros de saúde no país foram equiparados e foram igualmente introduzidas medidas referentes a Prevenção e Controlo de infeções. Por exemplo, no Hospital de Cumura tem agora um armazenamento de resíduos , assim como uma incineradora artesanal.
Para concluir, Usta relembra ao governo e aos parceiros internacionais, incluindo as Nações Unidas, os impactos negativos da pandemia. Salienta que a “COVID-19 aumentou as desigualdades, especialmente nos jovens, uma excelente maneira de dar resposta a essas desigualdades é aumentar as bolsas de estudo”. Antes de se despedir, acrescenta “Afinal, os jovens são o futuro do país, e somos nós que estamos a frente da pandemia: merecemos também ter mais oportunidades, o que você acha? “