Em parceria com FAO, Guiné-Bissau intensifica ações contra alterações do clima
Projeto em ilha da Guiné-Bissau disponibiliza água para consumo e utilização na agricultura; nação de língua portuguesa no oeste da África integra grupo de Pequ
Banhada pelo Oceano Atlântico, a Guiné-Bissau, com mais de 80 ilhas, une esforços para proteger seus recursos naturais e sua população de 1,8 milhão de habitantes dos efeitos das mudanças climáticas.
Considerada um Pequeno Estado-Ilha em Desenvolvimento, a nação africana é frequentemente ameaçada por fatores como a subida do nível do mar e a erosão costeira.
Jovens
Segundo o relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, “A crise climática é uma crise dos direitos da criança: apresentando o índice de risco climático das crianças”, o impacto das alterações climáticas ameaça a saúde, educação e proteção dos jovens guineenses.
O documento concluiu que as crianças guineenses estão altamente expostas às inundações costeiras e poluição do ar, mas também que os investimentos em serviços sociais, especialmente educação, água, higiene e saneamento podem fazer uma diferença significativa na capacidade de proteger o seu futuro dos impactos das mudanças.
Tecnologias Inteligentes
Em 30 de outubro, a Tabanca de Bruce, em Bubaque, recebeu um campo de produção hortícola.
O projeto “Adoção de Práticas Agrícolas Eficientes” implementado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, e pelo governo da Guiné-Bissau beneficiará diretamente mais de 600 pessoas da localidade e disponibilizará mais de 20 mil litros de água por dia.
Bubaque está localizada a quatro horas de barco da capital Bissau e tem uma população de cerca de 10 mil pessoas.
A ilha é parte do Arquipélago de Bijagós, uma área protegida, classificada pela Unesco, em 1996, como reserva da biosfera. O arquipélago tem uma área total de 2.624 km²e população total de cerca de 30 mil habitantes.
Políticas eficientes
Mario Reis, Oficial de Programas da FAO, disse que a ideia do projeto, que também foi desenvolvido em Seychelles e Cabo Verde, é promover estratégias de políticas eficientes e inteligentes para o desenvolvimento sustentável.
“As ilhas têm as suas particularidades, especialmente em relação ao acesso. Neste momento, o que é consumido, de maneira geral, vem do continente. Então, faz todo sentido desenvolver estruturas para a agricultura nas ilhas. Escolhemos Bubaque como local de intervenção do projeto e a principal atividade realizada foi a instalação de um centro de demonstração de agricultura irrigada que vai servir de aprendizagem para as melhores práticas agrícolas para combater as mudanças climáticas”, disse Reis.
Pandemia
O perímetro foi construído em menos de quatro meses compondo um furo de cerca de 30 metros, uma bomba de geração e armazenamento de água e quatro reservatórios em pontos diferentes para servir à população.
“Nós vimos que durante a pandemia de Covid-19 as populações das ilhas ficaram ainda mais isoladas. Havia dificuldade de acesso muito maior, restrições de viagens. Estas localidades já são mais vulneráveis e ficaram ainda mais frágeis. Por isso é tão necessário desenvolver iniciativas que possam fortalecer as atividades agrícolas nas ilhas”.
Amendoim
Bonifácio Alves nasceu na ilha, onde vive com a família que ele sustenta com recursos da plantação de amendoim, utilizado para consumo próprio e para revenda.
As sementes de mancarra, como o alimento é chamado na língua crioulo, são doadas pela FAO no âmbito do Projeto de Urgência de Segurança Alimentar.
Além da mancarra, que é abundante em Bubaque, Bonifácio lembra uma das atividades principais dos Bijagós é a pesca e que a conservação dos peixes é cada dia mais importante para a alimentação da população da ilha.
Seca e chuva
“Nos últimos anos, no período de seca e de chuva a população de Bubaque e das ilhas vêm sofrendo com as mudanças climáticas. Mas, com apoio de Instituto da Biodiversidade e das Áreas Protegidas, Ibap, estamos mudando a mentalidade. Devemos proteger a nossa cultura e o meio ambiente. Porque protegendo o meio ambiente teremos uma boa saúde e um bom clima”.
Já Laurinda Mendes, que vive com a família na Tabanca de Bruce, lembra que a água sempre foi um grande problema para a população de Bruce e que, para garantir água para a casa, era necessário sair de casa às 7h e só retornar depois das 11h.
Água
“Levávamos mais de 2, 3, 6 km para chegar até a bolanha e pegar água. Agora estamos satisfeitos por termos água aqui perto. É só chegar, apanhar a água e voltar para a casa. Agora, se somos muitos, esperamos uns os outros nas bombas e em cinco minutos já temos nossa água”.
Segundo as Nações Unidas, cerca de 80% dos guineenses são agricultores de subsistência.
Nas ilhas, a dependência dos recursos para a subsistência é ainda maior. Por isso, Iniciativas em conjunto são necessárias para amenizar os impactos das alterações na população da região.