Guiné-Bissau e FAO em parceria para salvar castanha de caju
Produto é o alimento que nutre a economia do país da Guiné-Bissau
Mais de 70% das famílias guineenses tiram seu sustento da castanha; ação extermina parasitas do produto.
Uma cooperação da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, FAO, com a Guiné-Bissau está combatendo parasitas no maior produto de exportação do país: a castanha de caju.*
A iniciativa não só ajuda a combater as pragas, mas aprimorar a qualidade da produção.
Arquipélago de Bijagós
O Programa de Cooperação Técnica ‘Apoio ao controle de doenças, pragas e parasitas do caju na Guiné-Bissau’ combate as pragas, doenças e parasitas diretamente no cajueiro.
Em maio, especialistas da Universidade de Lisboa, Portugal, se reuniram com os parceiros guineenses no Arquipélago de Bijagós e na Região de Gabu para identificar as doenças e pragas que afetam a produtividade dos cajueiros na Guiné-Bissau.
Em 10 dias, as três equipes com um total de 15 pesquisadores percorreram localidades na região continental e nas ilhas de Bubaque, Formosa, Caravela, Uno e Orango.
Fungos e bactérias
Os principais inimigos do cajueiro são: as doenças geralmente causadas por fungos e bactérias, as pragas como insetos que afetam as plantas e parasitas que crescem sobre os cajueiros e matam as plantas.
De acordo com bióloga Filipa Monteiro, que oferece apoio técnico ao projeto, o trabalho realizado em Bijagós foi importante para identificar se as pragas e doenças nas hortas de cajueiro. Ali, estes tentaram saber se elas são comuns ao continente ou se são específicas.
Acompanhados do primeiro guia ilustrado de identificação das doenças, pragas e parasitas mais comuns da Guiné-Bissau e da África Ocidental, elaborado no âmbito do projeto, os pesquisadores puderam identificar o que recolhiam e descobriam durante o trabalho de campo.
Condições fitossanitárias
“O objetivo desta missão nas ilhas era preencher uma zona que faltava verificar, especialmente numa área que fica na fronteira com Guiné-Conacri. Para a nossa surpresa, tivemos a percepção de que as hortas de cajueiro nas ilhas se encontram em relativas boas condições fitossanitárias, não afetam tanto os cajueiros quanto no continente. Também recolhemos algumas pragas que foram encontradas pela primeira vez na Guiné-Bissau, nas ilhas de Orango e Bubaque, nomeadamente os pulgões de cajueiro e os tripes”.
Filipa Monteiro também é professora auxiliar convidada da Faculdade de Ciências e investigadora do Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa.
Condições climáticas e biodiversidade
A especialista em Biodiversidade Tropical ressaltou que pelo fato de a ilha de Bolama estar mais perto do continente, as doenças e pragas são mais parecidas com as do continente. Nas ilhas mais afastadas, existe maior incidência de pragas com pouca expressão em nível continental, provavelmente devido às condições climáticas.
“Encontramos algumas plantas com doenças e a principal delas é a resinose, mas sempre associada a cajueiros mais velhos. O pó-fidalgo (planta semiparasita que se fixa nos ramos do cajueiro e absorve a seiva) que mata a árvore foi observada nas Ilhas de Orango e Bubaque, sendo no continente um problema bastante grande em regiões litorais como o Biombo, Quinara, Tombali e Cacheu. A disseminação do pó-fidalgo, que também afeta citrinos com menor incidência, poderá estar relacionada com os pássaros que se alimentam de frutos e que caem das árvores. Para combater este inimigo do cajueiro, o que recomendamos é a luta mecânica, com o corte dos ramos afetados para evitar a morte total do cajueiro”, completou.
Caju na economia da Guiné-Bissau
A castanha de caju representa mais de 90% das exportações da Guiné-Bissau. Em 2021, o país exportou 231 mil toneladas do produto, segundo dados da Agência Nacional de Caju, Anca. Tendo em conta a superfície coberta pelos cajueiros, estimada entre 520 e 530 mil hectares, a produtividade é relativamente baixa, respectivamente entre os 433 e 442 quilogramas de castanha por hectare, contra os 600 kg/hectare em países como a Índia, Vietnã e a Tanzânia.
Em 2017, o preço médio ao produtor atingiu o seu máximo histórico, fixando-se em 821 XOF/kg. Apesar da queda do preço ao produtor nos últimos dois anos, a estimativa da produção permanece acima de 230 mil. No ano de 2021, o preço médio foi de 354XOF/kg.
Formação para identificar e combater as pragas
Para apoiar a indústria mais importante do país, desde 2020, o projeto da FAO tem como principais objetivos diagnosticar a incidência de doenças do caju, pragas e parasitas e capacitar beneficiários para identificar as pragas.
Em fevereiro, uma formação em Quinhamel ofereceu aula prática com 24 técnicos que farão manuseio das plantas e identificarão as pragas a partir de um relatório mencionando pontos importantes como ocorrência, presença, gravidade e combate às doenças. Quem explica é a coordenadora nacional do projeto, Zinha Correia.
“Esses profissionais serão responsáveis pela prospecção em seus setores. Escolhemos Quinhamel para a formação porque é o local com maior incidência e que mais sofre com as pragas e infestantes do cajueiro. Formando pessoas nas diferentes regiões do país, não haverá necessidade de deslocamento, assim, o monitoramento será mais eficiente. Os técnicos estarão semanalmente em campo, fazendo fotos, averiguando, comparando diferentes partes da plantação”.
Equipamentos e guias
Já Viriato Silva, que trabalha do Departamento de Proteção Vegetal de Tombali, realizou a formação em campo com equipamentos e guias de identificação das doenças que afetam as plantações de caju.
Nos próximos meses, ele integrará uma equipe capaz de coletar dados, identificar pragas e ajudar a proteger os cajueiros.
“Essas formações em diferentes lugares do país são importantes para todas as comunidades porque muitas delas dependem do caju e o quanto antes conseguirmos combater e livrar as plantas das pragas e infestantes, melhor para nós”, contou Viriato.
*Reportagem de Natália da Luz, da FAO na Guiné-Bissau.